segunda-feira, 15 de março de 2010

Cores no Ventre Livre

Fotos das oficnas de grafite no Ventre livre, parceria com a Circulando



terça-feira, 9 de março de 2010

Aprenda a gravar o Sopapo


Use dois microfones na captação de sopapo: um eletrovoice (usado para bumbo de bateria, por exemplo) para captar freqüências graves na parte debaixo do instrumento e outro condensador na parte superior para captar a palma da mão. Deve-se colocar o instrumentista numa cadeira de pé, ótima medida para o resultado final pois a saída inferior de ar do instrumento precisa de espaço em relação ao chão para circulação das freqüências de graves e para que o microfone não seja atingido durante o toque do instrumentista (o que ocorre com facilidade se o instrumentista é posto na posição de pé dentro do estúdio, como se estivesse na avenida ao nível do chão ou num palco com os pés no assoalho). O uso da cadeira resolve isso assim como a possibilidade de o instrumentista tocar acavalado/sentado sobre o sopapo, boa alternativa também. Tome cuidado ainda com o ar condicionado pois vai interferir na afinação do instrumento, visto que a pele é de couro de cavalo ou gado, o que varia bastante com a variação de temperatura. Se precisar afinar às pressas pode ser feito com ferro de passar roupa junto com uma toalha ou secador de cabelo perto à parte superior do instrumento. A forma adequada é através de uma chave nº 13 para afinação conforme explicação do Mestre Batista, batendo com um martelo no aro superior sobre os parafusos grandes que ficam presos aos rebites de ferro e apertando os parafusos com a chave. Nesse caso, a ciência é o ouvido, a percepção da sonoridade que se quer tirar do instrumento. Batista sugere uma parelha de quatro sopapos, por exemplo, afinados cada um num tom: A (lá), C (dó), E (mi) e F (fá); montando assim o acorde de F7M. Talvez isso e certamente muito mais você vai ver com detalhes no documentário que está sendo produzido pelo Coletivo Catarse e Bataclã FC, com finalização e lançamento ainda em 2010: por exemplo, a ação mágica de um pedacinho de compensado com um martelo, todos juntos e sobretudo com um ouvido dotado de uma sabedoria ancestral constituem o peculiar kit de afinação de Mestre Batista. "O pulo do gato", diria o griô nascido no bairro Fragata em Pelotas e morador hoje do bairro Santa Terezinha, Rua São Jorge. O pulo do gato: um dentre muitos outros, digo eu.


Voltando às dicas de gravação: depois na mixagem pode-se juntar os dois canais (gravados separados com 2 microfones diferentes) ou até usar pistas separadas dependendo do que se quer no arranjo da canção (se fôr o caso). Microfone da parte superior para células rítmicas mais recheadas de semínimas com uso das bordas do instrumento ou microfone inferior para marcação (surdo de 1ª) no centro do sopapo. Na foto de Richard Serraria, Alessandro Brinco (mestre de bateria dos Imperadores do Samba) gravando terceiro disco da Bataclã FC na Tec Áudio, janeiro de 2010. As dicas acima são fruto de uma experiência em estúdio ao longo desses 11 anos de trabalho ininterrupto (desde 1999 quando estivemos no Colégio Pelotense nas primeiras oficinas de construção dos 40 sopapos para o Cabobu, em que trouxemos o primeiro exemplar de sopapo à Bataclã FC) com o instrumento secular das charqueadas adaptado ao contexto de uma banda de rock.

Texto de Richard Serraria para o blog Tambor de Sopapo