terça-feira, 25 de agosto de 2009

A invisibilidade do negro no RS

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Mestre Giba Giba e o tambor de Sopapo


Nas oportunidades que tive de viajar pelo Brasil com amigos, seja a trabalho ou pra curtir um pouco, ao falar sobre as coisas do Rio Grande, sua cultura, povo, política, na maioria das vezes houve surpresa entre as pessoas com quem comentávamos sobre a importância dos negros na formação do estado.

A nossa imagem vendida para o resto do Brasil é a de um recanto europeu, com tímida presença indígena e quase nada sobre os negros. A cultura consumida aqui dentro também é essa, mesmo que contrarie a realidade, nossa própria percepção. A migração alemã, italiana, açoriana, a troca constante com os espanhóis é hegemônica quando se trata da imagem do gaúcho. No máximo se permite a presença dos índios na figura de um Sepé Tiaraju, herói das guerras jesuíticas ou de um Pedro Missioneiro, personagem de o Tempo e o Vento. Quanto ao imenso contingente de negros, trazidos a ferro nos tempos da escravidão quase nada. O famoso episódio da traição dos Lanceiros Negros ao fim da Guerra dos Farrapos ainda não foi de todo esclarecido e como é uma marca tão negativa na história dos heróicos guerreiros brancos não se faz muita questão de descortinar a verdade aos olhos do presente.

Há alguns anos em uma matéria da revista Aplauso de setembro de 2006, edição 78, alguns dados me chamaram a atenção: o Rio Grande é o estado brasileiro onde maior população que se declara umbandista (1,1% dos gaúchos) segundo os censo de 2000. Ainda na mesma revista, o antropólogo e professor da UFRGS Ari Pedro Oro afirma existirem no RS cerca de 30.000 centros de cultos Afro-brasileiro. Somente para comparar o n de CTGs, no mundo inteiro gira em torno de 1.500.

Nosso carnaval teima em existir e até mesmo se fortalecer, mesmo com o boicote escancarado do poder público que é capaz de levar essa festa popular para os mais distantes espaços da cidade, sob o argumento da dificuldade em manter a estrutura e a grande afluência de público. O Acampamento Farroupilha continua no centro de Porto Alegre.

Dentro dessa lógica de camuflagem midiática, por vezes patrocinada pelos poderes do estado, causa estranheza aos brasileiros do além Mampituba esse discurso de artistas como Bataclã FC, Giba Giba, entre muitos outros, que resgata a importância do tambor de Sopapo e da cultura negra em geral na nossa formação. Os toques de batuque Afro-gaúchos, as cores desse povo, suas crenças misturadas nessa zona de fronteira, tudo isso e muito mais precisa ser revelado, apreciado, no mínimo respeitado e não mais escondido sob o risco de mantermos alienados toda a população do estado do Rio Grande do Sul. Numa próxima oportunidade quero falar sobre o Tambor de Sopapo, instrumento que esteve em vias de extinção e agora retorna vigoroso, com seus timbrem diversos, ao nosso convívio musical e espiritual.

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