terça-feira, 2 de outubro de 2007

Elite da tropa


Eu tava meio desavisado, não tinha me ligado nesse novo fenômeno chamado Tropa de Elite. Mas daí me caiu o livro na mão, Elite da Tropa, acho que tem de ler, não tem filme que substitua, aliás, são coisas tão diferentes que acho aquela frase, "O livro é melhor" um troço despropositado, coisa de quem se gaba de ler, ou talvez de ter tempo e grana pra comprar livro, o que nesse país sempre pode ser uma maneira de se destacar, né, coisa de elite isso de ler. Aqui embaixo vai um trecho, que já avisa da contradição dessa experiência, pois então, Luiz Eduardo Soares, um dos caras que mais sabe do assunto da violência urbana no Brasil mais André Batista e Rodrigo Pimentel.



"Homem de preto,
qual é sua missão?
É invadir favela
e deixar corpo no chão."
"Você sabe quem eu sou?
Sou o maldito cão de guerra.
Sou treinado para matar.
Mesmo que custe minha vida,
a missão será cumprida,
seja ela onde for
— espalhando a violência, a morte e o terror."

O Batalhão de Operações Policiais Especiais, BOPE para os íntimos, chega à praça de guerra. Estamos com gana de invadir favela, um puta tesão. Desculpe falar assim, mas é para contar verdade ou não é? Você vai logo descobrir que sou um cara bem formado, com uma educação que pouca gente tem no Brasil. Talvez você até se espante quando souber que estudo na PUC, falo inglês e li Foucault. Mas isso fica para depois. Vou tomar a liberdade de falar com toda franqueza, e, você sabe, quando a gente é sincero, solta o verbo e nem sempre as palavras são as mais sóbrias e elegantes.
Se você está esperando um depoimento bem educadinho, pode esquecer. Melhor fechar o livro agora mesmo. Desculpe, mas me irrito com as pessoas que querem ao mesmo tempo a verdade um discurso de cavalheiro. A verdade tem de ser convocada a comparecer, e ela só baixa no cavalo desbocado, que se recusa a filtrar a voz que vem do coração. Por isso, a verdade está mais para discurso de cavaleiro e de cavalo, do que para os salamaleques da corte. Esse depoimento é como se fosse minha casa. Ele vai ser belo, sublime e horrendo, como eu sou, como tem sido a minha vida. E como é a sua vida também, com toda certeza. Entre, fique à vontade. A casa é sua. No início você vai estranhar um pouco algumas coisas, mas depois vai se acostumar. Eu também estranhei no começo. Quando entrei pra polícia, estranhei muita coisa. Mas logo me acostumei. A gente se acostuma. Portanto, meu caro amigo, caríssima amiga — posso chamá-los assim? —,apertem o cinto e vamos em frente...

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